Para a iraniana Ameneh Bahrami, a resposta está na ponta da língua: “Meu perdão custa 2 milhões de euros (R$ 4,6 milhões)”, afirmou recentemente ao jornal iraniano “Arman”. “O dinheiro será usado para garantir meu futuro, minha vida”, completou. Ameneh ficou cega e teve o rosto desfigurado após ser atacada com ácido em 2002. Ela tinha apenas 24 anos quando sofreu a agressão. Caso não receba o dinheiro, ela exige que a justiça do Irã cegue o homem que a deformou.
A jovem foi atacada por Majud Movahedi, que era seu colega de faculdade. Ele foi condenado pela justiça islâmica a ficar cego. O agressor confessou ter atacado a estudante dizendo que estava frustrado por ela não ter aceitado seu pedido de casamento.
Mas para o especialista Júlio Rique Neto, que desenvolve pesquisas sobre o tema, o perdão não deve ser confundido com compensação ou retaliação. “Perdoar é abdicar do direito ao ressentimento para nutrir sentimentos e comportamentos positivos, como compaixão, pela pessoa que a ofendeu”, explica.
Este mês, a Justiça do Mato Grosso condenou os pilotos norte-americanos do jato Legacy, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, pelo acidente com o voo 1907 da Gol, que caiu em setembro de 2006, matando os 154 passageiros a bordo. Os dois foram condenados a 4 anos e 4 meses de serviço comunitário e a proibição do exercício da profissão. Ao processo ainda cabe recurso.
Rosane Gutjahr, viúva de Rolf Ferdinando Gutjahr, de 50 anos, uma das vítimas do acidente, afirma que a condenação não alivia a dor de forma nenhuma, ainda mais considerando a pena branda imposta aos pilotos. “Perdemos nossos entres queridos de forma brutal. Muitos de nós não puderam enterrar seus mortos, porque não sobrou nada e é muito difícil passar por cima”, lamenta. “Uma condenação mais rigorosa também não eliminaria a dor e a falta, mas seria capaz de fazer justiça e resgatar a nossa dignidade”, completa.
Em 2009, a família do eletricista Jean Charles recebeu uma indenização de 100 mil libras (cerca de R$ 288 mil na época) em razão da morte do brasileiro pela polícia britânica, que afirmou, por meio de nota, que o caso estava encerrado com o pagamento. Patrícia da Silva Armani, prima de Jean, diz, porém, que a vida do primo valia muito: “Esse tipo de situação não se resolve assim. A ferida não se fecha com dinheiro.”
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