Seu Modo de Ser Muda a Forma como Você Lida com a tensão e Pode Manifestá-la
O estresse é algo comum e inseparável do nosso dia a dia. "Hoje a tensão faz parte do nosso cotidiano, mas isso não significa que ela precisa ser algo ruim", considera o psicólogo clínico Fernando Elias José, mestre em Cognição Humana pela PUC-RS. O estresse pode ser positivo, e o problema, na verdade, não está na tensão em si, mas na forma como lidamos com ela.
Mas, nesse aspecto a personalidade é um fator muito importante na hora de reagir ao estresse. "Dependendo das suas características você leva com mais facilidade as questões da sua vida ou não, elas podem ser mais leves ou mais pesadas de acordo com seu jeito de funcionar", define a psicóloga Marina Vasconcellos, terapeuta familiar e de casais. Levando isso em conta, estudiosos norte-americanos vêm traçando alguns perfis e de que forma cada um deles lida com situações estressantes. É uma teoria, mas pode ajudar as pessoas a buscarem pelo autoconhecimento.
Eles não são diagnósticos definitivos, na verdade o comum é que cada pessoa apresente características deles de forma misturada e única, afinal não existem duas pessoas iguais. De qualquer forma, vale a pena conhecer as principais características de todos eles, e ver onde você se encaixa! Por isso, listamos esses tipos de personalidade a seguir, e conversamos com especialistas para saber como cada uma delas pode reagir a um problema, e quais são as soluções.
Personalidade tipo A: explosivos e inseguros
Pessoas agressivas e explosivas tendem a demonstrar mais o estresse
Na década de 1950 dois cardiologistas norte-americanos traçaram os perfis A e B de personalidade. O primeiro consistia em pessoas mais nervosas, explosivas, ambiciosas e inseguras. Os dois estudiosos notaram que quem se encaixava nesse perfil tinha uma chance muito maior de ter doenças cardiovasculares. Porém, a classificação mais tarde foi utilizada no campo da psicologia, para determinar tipos de personalidade propensas à tensão.
Esse perfil engloba, basicamente, pessoas que sempre correm contra o tempo, acumulam tarefas, têm uma atitude competitiva, usam palavras fortes, gostam de influenciar os outros e podem ser agressivos e hostis. Ter um desses traços já pode indicar essa personalidade. E tudo isso está ligado à baixaautoestima, gerando uma combinação explosiva. "Os indivíduos padrão tipo A possuem uma autoexigência muito elevada, o que pode ser uma fonte interna de estresse importante, visto que comparam o seu desempenho sempre com o ideal e não com a média", explica a psicóloga Carolina Michaella, do Instituto de Psicologia e Controle do Estresse (IPCS). Além disso, a falta de tempo e acúmulo de tarefas são fatores que podem muito bem gerar situações estressantes.
Mas é importante ressaltar também que essas pessoas também demonstram mais a tensão que sentem. "A própria explosão das pessoas agressivas já é uma forma de mostrar que tudo esta fora do equilíbrio, o desgaste emocional é como se fosse uma faísca e tudo pega fogo imediatamente", descreve a psicóloga Adriana de Araújo, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia. Mas isso nem sempre significa que elas estão sofrendo mais de estresse do que os outros ao redor, pois muitas vezes eles estão acostumados a lidar com as situações dessa forma.
De qualquer forma, quem tem esse tipo de personalidade não está condenado a viver estressado. "O ideal para essas pessoas é procurar atividades que as acalmem, e como qualidade de vida é algo individual, não precisam se restringir a atividades como ioga ou meditação, apenas buscar algo que as relaxe", considera o psicólogo clínico Fernando Elias José.
Personalidade tipo B: descontraídos
Pessoas que refletem mais sobre a vida tendem a lidar melhor com o estresse
Em contrapartida, os cardiologistas norte-americanos traçaram os perfis tipo B, que são pessoas mais tranquilas e descontraídas, com maior capacidade para delegar funções, menor ambição e mais confiança tanto nos outros quanto em si mesmos. Ou seja, o exato oposto do tipo A, o que as torna menos propensas ao estresse, ou quando apresentam o problema, as capacita melhor a encontrar a causa. "Eles também podem ter uma forma de se perceber exigente, no entanto, lidam com isso com menos autoexigência que o tipo A", estabelece Carolina.
Outra característica dessa personalidade é refletir de forma mais racional sobre os problemas. "Quando você coloca tudo na balança, você tem tempo de pensar nas suas atitudes, não toma nada por impulso, e foca em você, parando para se analisar e se perceber", pontua a psicóloga Marina Vasconcellos. Ao olhar a situação com frieza, fica muito mais fácil encontrar soluções e assim reduzir a tensão.
Mas assim como o tipo A não é um estressado compulsivo, o tipo B também não está imune à tensão. "É importante que quando esse tipo de situação aparecer, elas preservem esse seu olhar que as ajuda a administrar a questão do jeito delas", aconselha Elias José. Também devem tomar cuidado para não somatizar as situações, sempre tentando demonstrar que está estressada, quando a tensão de fato ocorrer.
Personalidade tipo C: fechados
Guardar os sentimentos faz com que a pessoa somatize seus sintomas, tendo manifestações físicas
São pessoas que internalizam mais seus sentimentos e o que lhes incomoda, não externalizando tanto seus sentimentos. Isso é ruim, pois essas pessoas acabam por não colocar para fora o mal-estar. "Ao não elaborar os sentimentos e exprimir, o corpo assume: você pode apresentar imunidade baixa, depressão, falha de memória, lapsos de memória...", descreve Marina. Essa é a chamada somatização.
Inclusive, alguns especialistas acreditam que isso esteja ligado ao câncer. "Muitos pacientes com essa doença normalmente apresentam histórico de alguma situação difícil de lidar, seja de familiares, empregos ou afastamento de pessoas queridas... Por outro lado, algumas pessoas tranquilas também podem desenvolver essa doença. Ainda precisam ser feitos muitos estudos para estabelecer essa relação", acredita a especialista.
De qualquer forma, pessoas com essa personalidade mais fechada precisam encontrar outras formas de colocar o estresse para fora. "De forma geral, elas têm que externar isso, porque guardar sentimentos não gera benefício para ninguém. Mas isso pode ser feito de forma não-verbal, através de atividades físicas ou de algum outro hobby que a permita se expressar", ensina o psicólogo clínico Elias José.
Personalidade tipo D: pessimistas e solitários
O temperamento negativo nem sempre significa ser mais propenso ao estresse
Esse grupo é composto por pessoas mais negativas, depressivas e normalmente solitárias. Para o psicólogo Elias José, nem sempre a negatividade é o fator mais relevante ao estresse nessa situação: "se o estilo da pessoa é este, ela não necessariamente está estressada com isso, e sim funciona dessa forma, sendo pessismista", pondera o especialista. Mas é claro, quando você já é negativo, fica mais difícil encontrar saídas em situações tensas, o que pode contribuir para o mal-estar. Além disso, esse tipo de atitude faz com que a pessoa acumule pensamentos ruins, que agem como um "peso", como destaca Adriana de Araújo.
Mas talvez o principal problema dessa personalidade seja a solidão. "Muitos se afastam de quem é negativo, e essas pessoas acabam lidando sozinhas com os problemas sem dividir muito", observa Marina Vasconcellos. Além disso, essas pessoas podem não lidar bem com a opinião dos outros e acabam não tendo muito incentivo para mudar.
Para esses indivíduos, o ideal era tentar trabalhar esse lado negativo, e um bom caminho é através da psicoterapia. "É importante tentar de alguma maneira dar outro significado à vida e às situações", acredita Elias José. "Também vale lembrar que nem sempre somos donos da verdade se muitas pessoas falam que você é negativo, você tem que estar aberto ao feedback externo e tentar mudar isso", finaliza.
Personalidade não é tudo
Se você se identificou com um ou mais pontos de cada uma dessas personalidades, não se preocupe! Como cada pessoa é única, é normal que misturemos essas características mesmo. E o mais importante é lembrar que esse fator não é o único a determinar como lidamos com o estresse. "Muitas vezes duas pessoas podem ter personalidades parecidas, mas um fator estressante para uma pode ser tranquilo para a outra, isso é algo muito individual", reitera Elias José.
E, mais importante do que o estressor ou a forma como se encara o estresse, está a capacidade de resolver as situações. "O único aspecto que faz diferença é ser capaz de solucionar os problemas e de lidar com os reveses da vida", ressalta a psicóloga Adriana de Araújo. Portanto, não encare as suas características como algo determinante para seu estresse, e tente, no lugar disso, trabalhar habilidades para lidar melhor com o estresse.
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