AS CONSEQÜÊNCIAS PARA OS FILHOS QUANDO OS PAIS SÃO NEGLIGENTES
Júlio Severo
A questão da disciplina dentro da família encontra-se bem tratada na
Palavra de Deus. E o Novo Testamento até a utiliza para demonstrar como Deus
não age diferente dentro de sua própria família espiritual:
Vocês se esqueceram da palavra de ânimo que ele lhes dirige como a
filhos: “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua
repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem
aceita como filho”. Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina;
Deus os trata como filhos. Ora, qual o filho que não é disciplinado por
seu pai? Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos,
então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos. Além disso,
tínhamos pais humanos que nos disciplinavam, e nós os respeitávamos. Quanto
mais devemos submeter-nos ao Pai dos espíritos, para assim vivermos! Nossos
pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus
nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma
disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais
tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram
exercitados. (Hebreus 12:5-11 NVI, o destaque é meu.)
Esse simples texto da Bíblia que lida com a questão da repreensão e
castigo resume muito bem a essência da disciplina. O texto inteiro foi
baseado no seguinte versículo de Provérbios: “Meu filho, não despreze a
disciplina do SENHOR nem se magoe com a sua repreensão”. (Provérbios 3:11 NVI)
O Novo Testamento fez assim uma referência bem relevante, pois não há livro em
toda a Bíblia que contenha mais orientação sobre disciplina de filhos do que
Provérbios.
Um pai da Bíblia que corrigia os filhos — só com palavras
Se Provérbios é um livro que explica muito bem o que é a disciplina,
então todos os pais mencionados na Palavra de Deus sabiam aplicá-la? Não. Nem
todos os pais da Bíblia corrigiam seus filhos. Alguns escolhiam simplesmente a
correção verbal, e nada mais. O sacerdote Eli, por exemplo, criou os filhos no
sacerdócio e, quando se tornaram homens, eles cometiam frequentemente pecados
contra Deus. Eles estavam até violando os sacrifícios oferecidos a Deus na casa
de Deus:
Os filhos do sacerdote Eli não prestavam e não se importavam com Deus,
o SENHOR. Eles não obedeciam aos regulamentos a respeito daquilo que os
sacerdotes tinham o direito de exigir do povo. Assim os filhos de Eli tratavam
com muito desprezo as ofertas trazidas a Deus, o SENHOR. E para o SENHOR o
pecado desses moços era muito grave. (1 Samuel 2:12,13a,17 NTLH)
Eli via os pecados de seus filhos e, como todo pai bonzinho, não
ficava em silêncio. Ele sempre abria a boca para dar uma bronca neles.
“Eli já estava muito velho. Ele ouvia falar de tudo o que os seus
filhos faziam aos israelitas e também que eles estavam tendo relações
com as mulheres que trabalhavam na entrada da Tenda Sagrada. Então Eli
disse: — Por que é que vocês estão fazendo essas coisas? Todos me falam do mal
que vocês estão praticando. Parem com isso, meus filhos! Eu estou ouvindo
o povo do SENHOR Deus dizer coisas terríveis a respeito de vocês! Se uma
pessoa peca contra outra, o SENHOR pode defendê-la. Mas quem pode defender
aquele que peca contra Deus? ” (1 Samuel 2:22-24,25a NTLH, o destaque é meu.)
Há pais que se calam diante de pecados horríveis dos próprios filhos,
nem ousando mencionar para eles que parem seu comportamento sexual errado, mas
essa fraqueza Eli não tinha. Ele apontava os erros no nariz dos filhos. No
entanto, a Palavra de Deus revela claramente a reação dos filhos de Eli às
repreensões do pai e a reação do Senhor à desobediência e teimosia deles: “Mas
eles não ouviram o pai, pois o SENHOR havia resolvido matá-los. ” (1 Samuel
2:25b NTLH)
Deus, em seu amor, faz visitações proféticas a Eli
Como sacerdotes do Senhor, tanto Eli quanto seus filhos conheciam
muito bem a Palavra de Deus. Mas mesmo assim, os filhos de Eli estavam
decididos a desobedecer à Palavra de Deus e ao seu próprio pai, e Eli estava
decidido a não disciplinar ninguém — limitando-se no máximo a passar um sermão.
Já que todos estavam assim decididos contra as ordens e conselhos da Palavra de
Deus, Deus também resolveu decidir: ele decidiu que a solução para os filhos de
Eli era a pena de morte.
Apesar de que Eli estava entristecendo muito a Deus pela sua falta de
ação, Deus sempre demonstrou misericórdia, na esperança de que Eli pudesse se
arrepender e finalmente assumir a postura de um pai que age. Através de
mensagens proféticas, Deus deixou bem claro para Eli que ele queria muito mais
do que só palavras. Se os filhos teimavam em desobedecer, a obrigação de Eli
era, além de repreender, tomar medidas concretas. Foi nesse ponto que Deus
mandou um profeta a Eli:
“Então um profeta procurou Eli e lhe deu esta mensagem de Deus, o
SENHOR: —Eu me revelei ao seu antepassado Arão quando ele e a sua família eram
escravos no Egito. Você sabe que eu os escolhi, entre todas as tribos de
Israel, para serem meus sacerdotes, servirem no altar, queimarem incenso e
usarem o manto sacerdotal na minha presença. E dei a eles o direito de ficarem
com uma parte dos sacrifícios queimados no altar. Por que é que vocês olham com
tanta ganância para os sacrifícios e ofertas que eu ordenei que me fossem
feitos? Eli, por que você honra os seus filhos mais do que a mim, deixando que
eles engordem, comendo a melhor parte de todos os sacrifícios que o meu povo me
oferece? Eu, o SENHOR, o Deus de Israel, prometi no passado que a sua
família e os seus descendentes me serviriam para sempre como sacerdotes. Mas
agora eu digo que isso não vai continuar. Pois respeitarei os que me respeitam,
mas desprezarei os que me desprezam. Olhe! Está chegando o tempo em que eu
matarei todos os moços da sua família e da família do seu pai para que nenhum
homem da sua família chegue a ficar velho. Você passará dificuldades e terá
inveja de todas as coisas boas que vou dar ao povo de Israel, mas ninguém da
sua família chegará a ficar velho. Deixarei vivo apenas um dos seus
descendentes, que será, meu sacerdote. Mas ele ficará cego e perderá toda a
esperança. E todos os seus outros descendentes morrerão de morte
violenta. Hofni e Finéias, os seus dois filhos, morrerão no mesmo dia,
e isso será uma prova para você de que o que eu disse é verdade. Escolherei
para mim um sacerdote fiel, e ele fará tudo o que eu quero. Darei a ele
descendentes que sempre estarão a serviço do rei que eu escolher. E todos os
outros descendentes de você que, por acaso, ficarem com vida terão de se curvar
diante do rei para pedir dinheiro e comida e implorarão para ajudar os
sacerdotes, a fim de terem alguma coisa para comer”. (1 Samuel 2:27-36 NTLH)
Deus já havia decidido que a penalidade para as ofensas que os
sacerdotes Hofni e Finéias estavam cometendo era a morte. Mas como Eli não
queria cumprir sua responsabilidade como pai e como supremo sacerdote de punir
severamente as maldades deles, a maldição e pena de morte que estavam sobre
Hofni e Finéias cairiam sobre a família inteira de Eli. Deu até usou o menino
Samuel para avisar Eli:
“E o SENHOR disse: — Eu vou fazer com o povo de Israel uma coisa tão
terrível, que todos os que ouvirem a respeito disso ficarão apavorados. Naquele
dia farei contra Eli tudo o que disse a respeito da família dele, do começo até
o fim. Eu lhe disse que ia castigar a sua família para sempre porque os seus
filhos disseram coisas más contra mim. Eli sabia que eu ia fazer isso, mas não
os fez parar. Por isso, juro à família de Eli que nenhum sacrifício ou oferta
poderá apagar o seu terrível pecado. ” (1 Samuel 3:11-14 NTLH)
Depois de tal repreensão divina, um homem sábio se prostraria diante
de Deus, agradeceria sua visitação sobrenatural, pediria perdão e se
comprometeria diante do Senhor a agir de acordo com a Palavra de Deus,
castigando quem merecia ser castigado, mesmo que envolvesse um castigo de pena
capital. Mas qual foi a reação de Eli quando Samuel lhe entregou o recado
profético?
“Então Samuel contou tudo, sem esconder nada. E Eli disse: — Ele é
Deus, o SENHOR. Que ele faça tudo o que achar melhor! ” (1 Samuel 3:18 NTLH)
Em outras palavras, Eli quis dizer: “Se Deus quiser agir e fazer o que
eu mesmo não estou fazendo, ele pode fazer o que ele quiser, mas eu não vou
agir. Que Deus aja sozinho”. Como se diz, ele tirou o corpo fora — não
aceitando a chance de colaborar com Deus na ordem da família de Deus e na
própria família dele! Ele queria simplesmente continuar tratando seus
filhos adultos do mesmo jeito que ele vinha tratando-os desde a infância: sem
lhes ministrar castigo físico.
Conseqüências da negligência de um pai
Eli evitou sua responsabilidade de castigar, e as maldições sobre
Hofni e Finéias se cumpriram, atingindo muito mais do que suas próprias vidas —
afetando a nação inteira de Israel. Quando Israel enfrentou seus terríveis
inimigos filiteus em batalha — sob a liderança “espiritual” de Hofni e Finéias
—, houve grande derrota. Os israelitas descobriram, da pior forma, que estavam
sem proteção espiritual:
“ — O povo de Israel fugiu dos filisteus! — Respondeu o mensageiro. —
Foi uma terrível derrota para nós. Além de tudo, os seus filhos Hofni e Finéias
foram mortos, e os filisteus tomaram a arca da aliança. Quando ouviu falar na
arca, Eli caiu da cadeira para trás, perto do portão da cidade. Ele estava
muito velho e gordo. Por isso, quando caiu, quebrou o pescoço e morreu. Eli foi
o líder do povo de Israel quarenta anos. ” (1 Samuel 4:17-18 NTLH)
Eli não se preocupou muito com a morte dos filhos, pois ele já sabia
que não havia outro destino para eles. Ele se preocupou mais com o destino da
arca. Contudo, se ele tivesse agido energicamente, sua família não receberia
maldição nem a arca seria tomada.
Poucos anos depois, praticamente toda a família sacerdotal de Eli foi
brutalmente assassinada pelo rei Saul (cf. 1 Samuel 22), cumprindo-se assim a
palavra profética dirigida a Eli: “E todos os seus outros descendentes morrerão
de morte violenta”. (1 Samuel 2:33b). A teimosia de um pai em não punir a
teimosia e maldade dos próprios filhos removeu a segurança espiritual que
poderia proteger os netos, bisnetos e outros familiares de Eli contra a fúria
cega e assassina de Saul anos depois.
O profeta Samuel, em sua infância e juventude, viu tudo o que aconteceu
com Eli e seus filhos. Ele viveu no ambiente sacerdotal de Eli, mas a diferença
é que Samuel não era filho de Eli.
Ana, uma esposa israelita estéril, havia orado muito a Deus pedindo um
filho. Deus respondeu dando-lhe a bênção de conceber Samuel em seu ventre.
Depois do nascimento de Samuel, Ana o levou à casa de Deus — onde Eli ocupava a
função de supremo sacerdote — e o entregou e consagrou ao serviço de Deus,
separando-se fisicamente dele. (Veja 1 Samuel 1)
Do ponto de vista humano, o menino Samuel corria o risco de sofrer o
mesmo tipo de deficiência educativa que Eli havia dado a seus próprios filhos —
pois os filhos de Eli não sabiam o que era castigo físico. Do ponto de vista
divino, tudo o que Ana e seu marido não podiam fazer por seu filho Samuel, Deus
daria. Aliás, Deus soberanamente preencheu com sua maravilhosa graça toda a
deficiência e má influência de Eli na criação e educação de Samuel.
A graça de Deus não é automática
Mesmo sendo criado sem nenhum castigo físico, Samuel milagrosamente
não se tornou o tipo de adulto que eram os filhos de Eli. Samuel viu que a
graça de Deus que estava sobre ele o tinha livrado de toda contaminação e
danos. Daí ele pode ter concluído que é possível educar crianças sem a
aplicação da disciplina física. Sem dúvida alguma, a falta de dano foi obra
exclusiva da graça de Deus, porém Samuel pode bem ter pensado que ele poderia
“sustentar” essa obra em sua família, sem jamais precisar recorrer a uma surra.
A Palavra de Deus fala muito sobre Samuel e sua integridade, mas não fala muito
sobre seus filhos, e o pouco que fala revela que eles não herdaram a
integridade do pai. Tudo o que a Palavra de Deus diz sobre os filhos de Samuel
é:
“Quando envelheceu, Samuel nomeou seus filhos como líderes de Israel.
Seu filho mais velho chamava-se Joel e o segundo, Abias. Eles eram líderes em
Berseba. Mas os filhos dele não andaram em seus caminhos. Eles se tornaram
gananciosos, aceitavam suborno e pervertiam a justiça”. (1 Samuel 8:1-3 NVI)
Samuel só tinha dois filhos, e eles eram corruptos — provavelmente
porque o pai lhes deu a mesma educação (humanamente deficiente) que recebeu. A
graça de Deus que trabalhou na vida de Samuel — sem a necessidade do uso da
disciplina física — não trabalhou na vida de seus filhos. A graça de Deus não é
uma bênção que nós escolhemos, nem é automática. Deus é que soberanamente
escolhe e dá.
Samuel deve ter agido como sua mãe Ana, entregando seus filhos para a
graça de Deus, achando que somente isso bastava. O que ele fez não é errado,
mas as situações eram distintas. Na criação de Samuel, não havia um pai para
discipliná-lo. Na criação dos filhos de Samuel, havia um pai para
discipliná-los, porém esse pai tentou um caminho de fé que acabou não
funcionando. Seu exemplo serve de lição para nós hoje. Os pais podem e devem
entregar seus filhos a Deus e depender da graça de Deus, mas jamais podem
deixar de cumprir os mandamentos específicos de Deus sobre educação e correção
de filhos. Usar a graça de Deus como desculpa para evitar a responsabilidade da
disciplina física é dar um salto no escuro — arriscando mandar os filhos para o
mesmo destino e abismo de corrupção dos filhos de Samuel!
O mesmo Deus que em situações especiais concede soberanamente sua
graça também orienta o seu povo sobre o método divino de castigo físico para a
educação das crianças. A graça de Deus pode agir em situações em que a criança
por um motivo ou outro não recebe castigo físico, principalmente na ausência
dos pais, mas é arriscado e errado fechar deliberadamente os ouvidos para as
orientações de Provérbios e “deixar para a graça de Deus” um trabalho e
responsabilidade que Deus deu diretamente aos pais. Deus pode trabalhar quando
os pais não estão presentes, exatamente como aconteceu na infância de Samuel,
mas quando os pais estão presentes, eles devem agir conforme já está bem claro na
Palavra de Deus.
Enquanto formos seres humanos, temos necessidades humanas. Uma dessas
necessidades é disciplina, correção e castigo, que fazem parte tanto da família
natural quanto da família espiritual. Para ajudar os pais no importante e
difícil tarefa da disciplina, Deus nos deixou o Livro de Provérbios, que contém
muitas passagens sobre o assunto.
O que a sabedoria de Deus ensinou a Salomão
O Livro de Provérbios na Bíblia foi, em grande parte, escrito por
Salomão, filho de Davi. Sendo então o autor principal de Provérbios, como foi
então que Salomão conseguiu escrever tanto sobre disciplina física de crianças?
Foi por causa do exemplo de seu pai? Foi com o que aprendeu em seu lar na
infância?
Salomão não aprendeu princípios de disciplina por experiência própria
nem com o que via ao seu redor, pois no próprio lar em que cresceu ele nunca
levou uma surra corretiva do pai. Por algum motivo, Davi nunca corrigia a
teimosia e desobediência de seus filhos. Ele falhou nessa área. Ele foi um
homem justo em muitas áreas, porém a Palavra de Deus mostra seu fracasso no
desempenho de seu papel como pai. Quando seu filho Amnom estuprou a própria
irmã, a maioria das versões bíblicas se limita a dizer que Davi ficou furioso
quando soube da violência sexual, porém a Septuaginta revela muito mais:
“Quando soube disso, o Rei Davi ficou muito irado. Mas Davi não
castigou seu filho Amnom. Ele favorecia Amnom porque ele era seu filho mais
velho”. (2 Samuel 13:21 GW)
“Quando soube do que havia acontecido com Tamar, Davi ficou muito
irado. Mas Amnom era seu filho mais velho e também o seu favorito, e Davi não
queria fazer nada que deixasse Amnom infeliz”. (2 Samuel 13:21 CEV)
Outra passagem da Bíblia revela como Davi agia com seu filho Adonias:
Ora, toda a sua vida seu pai nunca havia sido contra ele ou lhe dito,
por que é que você fez isso? (1 Reis 1:6a BBE)
Mas seu pai nunca, nem uma só vez, o repreendeu dizendo: “Por que você
agiu desse jeito? ” (1 Reis 1:6a HCSB)
Seu pai o estragou na infância, jamais lhe dando, nem uma só vez, uma
bronca. (1 Reis 1:6a MSG)
Talvez Davi não tenha sofrido castigos divinos tão fortes quanto os
castigos que Eli recebeu porque Davi estava casado com várias mulheres e não
tinha, como rei, tempo para administrar sua imensa família. Tal fraqueza pode
não lhe ter custado as maldições que Eli colheu, porém não o livrou de
problemas sérios com seus filhos. Seu filho Absalão, que nunca apanhou, tomou o
seu trono e quase o matou, agindo com extrema violência, estuprando as
concubinas do próprio pai! O caso de Absalão mostra o engano dos que acreditam
que só as crianças criadas com disciplina se tornam violentas. O oposto foi
verdade no caso de Absalão. Seu irmão Amnom, criado sem nunca levar uma surra,
cometeu um ato violento, estuprando a própria irmã!
A chave então para não sofrer problemas semelhantes na família não é
seguir a moda de hoje de evitar a disciplina física, mas adotar uma postura
equilibrada: uma criança criada de modo violento ou sem castigo físico
pode acabar cometendo violências, mas uma criança criada com o uso sábio da disciplina
física terá muito mais chance de levar uma vida marcada por um comportamento
bom e correto.
Passando toda a sua infância no lar de Davi, vendo Amnom, Absalão e
Adonias em seus maus comportamentos, Salomão sabia o que era a falta de
disciplina por experiência própria. Aliás, ele sofreu na própria pele as
conseqüências da falta de disciplina do lar de seu pai, pois seu mimado irmão
Adonias tentou tomar o governo das mãos de Salomão, e papai Davi não fez nada.
O mimado Adonias estava disposto a matar Salomão para ficar com o trono.
Salomão também conhecia o caso trágico de Eli, através do que seu Pai
Davi lhe contava. Davi soube dos problemas internos da família de Eli através
do próprio profeta Samuel, que era seu amigo. Assim, através de Davi Salomão
conhecia até a situação dos filhos de Samuel.
Talvez seu Pai Davi não tenha se importado muito com a falta de
castigo físico com que Eli, Samuel e ele mesmo criaram seus filhos porque
aquelas gerações de modo geral não educavam crianças de outro jeito. Pelo fato
de que grandes líderes espirituais daquela época como Eli, Samuel e Davi não
viam nada de errado com a falta de disciplina física na educação de filhos, é
bem possível que em Israel a educação sem castigo físico fosse bem mais comum
do que se poderia imaginar.
Provavelmente, o próprio Salomão nunca colocou em prática os
princípios de disciplina de filhos que ele escreveu em Provérbios quando ele
ainda era jovem, muito temente a Deus e não tinha esposa e filhos. Provérbios
orienta os homens a ter somente uma esposa[1], porém Salomão teve muitas. [2]
Ele desobedeceu. [3] Provérbios é o livro da Bíblia que mais ensina sobre
disciplina, porém Roboão, filho de Salomão, seguiu a tradição da família de
Davi de filhos mimados e maus.
Mas só porque Salomão não conseguiu obedecer significa que todos os
homens de Deus também não conseguirão ter somente uma esposa e educar e
corrigir os filhos conforme os excelentes princípios de Provérbios?
O que Deus fala aos pais através de Provérbios
Nas muitas orientações que escreveu sobre correção de filhos, Salomão
não foi influenciado por costumes de sua família nem pela cultura ao seu redor.
Ele estava sem condições de escrever com base na própria experiência, pois ele
e seus irmãos não sabiam o que era receber disciplina do pai. Foi a inspiração
direta de Deus que o levou a sustentar a posição não de seu pai nem de sua
cultura nem de seu próprio coração, mas de Deus na questão da disciplina
física. A sabedoria de Deus o capacitou a entender e ver o que mesmo seu pai e
Samuel não viam. Deus, através da sabedoria de Salomão em Provérbios, ensina:
“Aquele que poupa a vara odeia seu filho, mas aquele que o ama tem o
cuidado de discipliná-lo”. (Provérbios 13:24 NIV)
“Quem se recusa a surrar seu filho o odeia, mas quem ama seu filho o
disciplina desde cedo”. (Provérbios 13:24 GW)
“Aquele que poupa sua vara [de disciplina] odeia seu filho, mas aquele
que o ama o disciplina com diligência e o castiga desde cedo”. (Provérbios
13:24 Bíblia Ampliada)
“Os açoites que ferem, purificam o mal; E as feridas alcançam o mais
íntimo do corpo. ” (Provérbios 20:30 TB)
“Os castigos curam a maldade da gente e melhoram o nosso caráter. ”
(Provérbios 20:30 NTLH)
“Os golpes e os ferimentos eliminam o mal; os açoites limpam as
profundezas do ser”. (Provérbios 20:30 NVI)
“É natural que as crianças façam tolices, mas a correção as ensinará a
se comportarem. ” (Provérbios 22:15 NTLH)
“A estultícia está ligada ao coração do menino, mas a
vara da correção a afugentará dele. ” (Provérbios 22:15 RC)
“A insensatez está ligada ao coração da criança, mas a vara da
disciplina a livrará dela”. (Provérbios 22:15 NVI)
“Todas as crianças são sem juízo, mas correção firme as fará mudar”.
(Provérbios 22:15 CEV)
“A crianças por natureza fazem coisas tolas e indiscretas, mas uma boa
surra as ensinará como se comportar”. (Provérbios 22:15 GNB)
“Não retires a disciplina da criança, porque, fustigando-a com a vara,
nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a
sua alma do inferno. ” (Provérbios 23:13-14 RC)
“Não evite disciplinar a criança; se você a bater nela e castigá-la
com a vara [fina], ela não morrerá. Você a surrará com a vara e livrará a alma
dela do Sheol (Hades, o lugar dos mortos) ”. (Provérbios 23:13-14 Bíblia
Ampliada)
“Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a
vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do
inferno”. (Provérbios 23:13-14 RA)
“Não deixe de corrigir a criança. Umas palmadas não a matarão. Para
dizer a verdade, poderão até livrá-la da morte”. (Provérbios 23:13-14 NTLH)
“Não evite disciplinar a criança; se você a castigar com a vara, ela
não morrerá. Castigue-a, você mesmo, com a vara, e assim a livrará da
sepultura”. (Provérbios 23:13-14 NVI)
“É bom corrigir e disciplinar a criança. Quando todas as suas vontades
são feitas, ela acaba fazendo a sua mãe passar vergonha”. (Provérbios 29:15
NTLH)
“A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si
mesma vem a envergonhar a sua mãe”. (Provérbios 29:15 RA)
“A vara e a repreensão dão sabedoria, mas o rapaz entregue a si mesmo
envergonha a sua mãe”. (Provérbios 29:15 RC)
“Uma surra e um aviso produzem sabedoria, mas uma criança sem
disciplina envergonha sua mãe”. (Provérbios 29:15 GW)
Contudo, embora favoreça surras com vara, a Palavra de Deus não apoia
o excesso e a violência:
“Corrija os seus filhos enquanto eles têm idade para aprender; mas não
o mate de pancadas”. (Provérbios 19:18 NTLH)
“Castiga teu filho enquanto há esperança, mas para o matar não alçarás
a tua alma”. (Provérbios 19:18 RC)
“Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a
ponto de matá-lo”. (Provérbios 19:18 RA)
“Corrija seus filhos antes que seja tarde demais; se você não os
castigar, você os está destruindo”. (Provérbios 19:18 CEV)
“Discipline seus filhos enquanto você ainda tem a chance; ceder aos
desejos deles os destrói”. (Provérbios 19:18 MSG)
Portanto, a Palavra de Deus não aceita nenhum tipo de excesso — nem
falta de disciplina, nem surras violentas que colocam a vida da criança em
risco.
A falta de disciplina pode representar derrota em muitas áreas para
pais cristãos negligentes, que abrem a boca para repreender e mais nada. Embora
os meios de comunicação frequente e insistentemente destaquem os abusos de pais
que utilizam a violência no lugar da disciplina, não há espaço igual para
alertar o público sobre os perigos da falta de disciplina. Aliás, a
elite liberal e esquerdista — dona dos meios de comunicação — escolheu o
radicalismo no lugar do bom senso, preferindo apoiar esforços para proibir toda
forma de castigo físico em crianças, tornando a falta de disciplina a norma em
toda a sociedade.
O ponto preocupante é que se a falta de disciplina em lares cristãos
fortes podem provocar grandes prejuízos, o que poderia ocorrer então a uma
sociedade inteira que se deixou seduzir pela propaganda enganadora de que toda
disciplina física equivale à violência? A Palavra de Deus pode não ter sido
escrita por especialistas em psicologia, mas uma Mente Sábia está por traz de
suas orientações. Trocar essas orientações por conselhos e leis da moda podem
trazer alívio e acomodação no presente, mas também o espectro de um futuro
incerto e sombrio, pois não há indivíduo ou sociedade que tenha experimentado
sucesso rejeitando as orientações da Palavra de Deus.
Certos entendidos da Bíblia gostam de afirmar que algumas passagens da
Bíblia não são mais válidas, porque na opinião deles sua aplicação só tem
relevância para a cultura e sociedade do passado. Por exemplo, se Eli e Davi
utilizassem a vara para disciplinar seus filhos, esses entendidos concluiriam,
conforme seus próprios desejos, que o uso da vara como instrumento de correção
no lar tinha uma aplicação cultural para aquela época que hoje não mais tem.
Mas a realidade é bem outra, de modo que seria muito interessante ver esses
estudiosos se contorcendo para interpretar, contra seus próprios gostos, que a
falta de disciplina é uma prática cultural do antigo Israel sem valor para os
dias de hoje! Mas esses estudiosos não agem assim. Só quando lhes é conveniente
é que eles reinterpretam a Bíblia utilizando o argumento cultural.
A disciplina e os castigos fazem parte da família espiritual e humana
Assim como Deus disciplina seus próprios filhos espirituais, ele
também quer que os pais aqui na terra disciplinem seus próprios filhos.
Embora as medidas de Deus contra a teimosia, rebelião e desobediência
de seu povo sejam extremamente enérgicas e duras, ele limitou as ações
enérgicas dos pais à utilização da vara em casos de necessidade.
No Novo Testamento, o Senhor Jesus se utiliza de repreensões e
castigos para lidar com a desobediência de algumas igrejas. Uma das igrejas
recebeu a seguinte censura do Senhor:
“No entanto, contra você tenho isto: você tolera Jezabel, aquela
mulher que se diz profetisa. Com os seus ensinos, ela induz os meus servos à
imoralidade sexual e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos. Dei-lhe tempo
para que se arrependesse da sua imoralidade sexual, mas ela não quer se
arrepender. Por isso, vou fazê-la adoecer e trarei grande sofrimento aos que
cometem adultério com ela, a não ser que se arrependam das obras que ela
pratica. Matarei os filhos dessa mulher. Então, todas as igrejas saberão que eu
sou aquele que sonda mentes e corações, e retribuirei a cada um de vocês de
acordo com as suas obras”. (Apocalipse 2:20-23 NVI)
Deus cuida de sua família espiritual, educando-a, treinando-a e
castigando-a, e ele nos deixou o Livro de Provérbios a fim de que também
eduquemos, treinemos e castiguemos nossos filhos. A educação de crianças de
Provérbios pode ser resumida num só versículo:
“Eduque a criança no caminho em que deve andar, e até o fim da vida
não se desviará dele”. (Provérbios 22:6 NTLH)
Com os conselhos sábios de Provérbios, os pais podem treinar seus
filhos a andar no caminho do comportamento bom e certo, e até o fim da vida
eles praticarão o que aprenderam e evitarão os maus comportamentos.
Ninguém é mais sábio do que Deus em matéria de criação de filhos.
Nenhum livro da Bíblia fala tanto de sabedoria quanto Provérbios. E ninguém na
terra foi mais sábio do que Salomão, pois sua sabedoria vinha de Deus. Assim, a
sabedoria de Deus juntamente com a sabedoria de seu servo Salomão produziram os
conselhos mais sábios que os pais precisam para desempenhar a responsabilidade
de treinar seus filhos no bom caminho.
Os “sábios” deste mundo — que são verdadeiros tolos diante de Deus —
só aceitam o que seus amigos “sábios” ensinam. Mas os verdadeiros sábios
aceitam o que a Mente mais sábia do universo ensina em Provérbios.
“O tolo pensa que sempre está certo, mas os sábios aceitam conselhos.
” (Provérbios 12:15 NTLH)
“Quem anda com os sábios será sábio, mas quem anda com os tolos
acabará mal. ” (Provérbios 13:20 NTLH)
Educação sem castigo físico: na moda desde os tempos de Eli
Assim como no caso de Salomão, que não escreveu sobre disciplina
baseado nas experiências de infância que teve na casa de seu pai, o autor deste
artigo e sua esposa vêm de lares onde os pais não acreditavam na eficácia dos
castigos físicos. Acreditavam apenas no método de Eli, jamais tolerando que uma
criança levasse uma palmadinha para corrigir atos de teimosia e rebelião.
Aliás, num de nossos lares, além de abundantes revistas “especializadas” em
criação de filhos com abundantes conselhos psicológicos à la Eli, havia também
um manual do Dr. Benjamin Spock, responsável pela moderna rejeição em massa ao
uso da disciplina física. Os livros do Dr. Spock são vendidos há mais de meio
século — criando pelo menos três gerações inteiras de pais que amam e seguem
suas teorias como se fossem tão ou mais sagradas do que todas as orientações do
Livro de Provérbios.
Hoje, apesar de toda essa tradição em nossas famílias, acreditamos na
Palavra de Deus, que está acima das experiências, tradições, modismos e
opiniões humanas — até mesmo de cristãos bem-intencionados que são uma bênção
em muitas áreas, mas seguem os passos de Davi e Eli quando falam e ensinam
sobre criação de filhos. O melhor manual de criação de filhos sempre foi e
sempre será a Bíblia, e o maior mestre não é o Dr. Benjamin Spock. É o Autor da
Bíblia.
Eli morreu há mais de três mil anos, mas seus seguidores hoje são
muitos, principalmente entre educadores, psicólogos e defensores dos “direitos”
das crianças. Se estivesse vivo, ele exigiria sua marca registrada do método
que muitos psicólogos hoje arrogantemente atribuem a seus próprios conceitos.
Ele diria o que é muito comum em nossos dias: “Quero meus direitos! Eu sou o
pai desse método! Essa invenção pertence a mim! ” Ele poderia até processar os
psicólogos por lhe terem roubado a invenção da “disciplina sem castigo físico”.
Bom então para os psicólogos que Eli não esteja vivo!
Brincadeiras de lado, Eli e seus filhos podem estar sofrendo castigo
eterno por não reconhecerem o valor do castigo físico aqui na terra. Pai e
filhos podem estar pagando o mesmo preço, por causa de seus pecados. Bem que a
Palavra de Deus avisa:
“Não fique com medo de corrigir seus filhos; uma surra não os matará.
Uma boa surra, aliás, pode salvá-los de algo pior do que a morte. ” (Provérbios
23:13-14 MSG)
Publicado anteriormente com o título: Quando um pai não disciplina o
próprio filho
BBE: Bible In Basic English (Bíblia em Inglês
Básico).
GNB: Good News Bible – Second Edition.
CEV: Contemporary English Version (Versão Inglesa
Contemporânea).
GW: GOD’S WORD (Palavra de Deus). Copyright
© 1995 by GOD’S WORD to the Nations Bible Society. All rights reserved.
HCSB: Holman Christian Standard Bible.
MSG: THE MESSAGE: The Bible in Contemporary
Language.
NIV: New International Version.
NTLH: Nova Tradução na Linguagem de Hoje.
NVI: Nova Versão Internacional.
RA: Revista e Atualizada.
RC: Revista e Corrigida.
TB: Versão Brasileira.
Notas:
[1] Provérbios 5:15-19; Provérbios 31:2-3.
[2] Neemias 13:26.
[3] Deuteronômio 17:17.
Nenhum comentário:
Postar um comentário