Cerca de um terço das mulheres em todo o mundo já foram agredidas fisicamente ou sexualmente por um ex ou atual parceiro.
A conclusão é de uma revisão de uma série de artigos feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Especialistas também estimam que cerca de 40% das mulheres assassinadas no mundo foram mortas por um parceiro íntimo, e que ser agredida por um parceiro é o tipo mais comum de violência sofrida pelas mulheres.
“A violência contra as mulheres é um problema global de saúde de proporções epidêmicas”, afirma a diretora geral da OMS, Dra. Margaret Chan.
A Revisão
A OMS definiu a violência física como ser golpeada, empurrada, perfurada, sufocada ou atacada com uma arma. Violência sexual foi definida como ser fisicamente forçada a ter relações sexuais, ter relações sexuais porque está com medo do que seu parceiro possa fazer e ser obrigada a fazer algum ato sexual considerado humilhante ou degradante.
Quanto a violência doméstica, os cientistas analisaram informações de 86 países com foco em mulheres com mais de 15 anos de idade. Eles também avaliaram estudos de 56 países sobre a violência sexual feita por alguém que não fosse um parceiro, embora não tivessem dados do Oriente Médio.
O relatório descobriu que cerca de 7% das mulheres em todo o mundo já tinham sido vítimas de violência por parte de alguém que não era um parceiro.
Globalmente, a OMS descobriu que 30% das mulheres são afetadas por violência doméstica ou sexual vinda de um parceiro. O relatório foi baseado em grande parte em estudos de 1983 a 2010.
De acordo com as Nações Unidas, mais de 600 milhões de mulheres vivem em países onde a violência doméstica não é considerada um crime.
A taxa de violência doméstica contra as mulheres foi maior na África, no Oriente Médio e no Sudeste da Ásia, onde 37% das mulheres sofreram violência física ou sexual de um parceiro em algum momento de sua vida. A taxa foi de 30% na América Latina e na América do Sul, e 23% na América do Norte. Na Europa e na Ásia, foi de 25%.
Em um artigo relacionado publicado online na revista Lancet, os pesquisadores descobriram que mais de 38% das mulheres assassinadas no mundo são mortas por um ex-parceiro ou atual, número seis vezes maior do que a taxa de homens assassinados por suas parceiras.
Heidi Stoeckl, uma das autoras deste estudo, disse que os números podem ser ainda maiores. Ela e seus colegas descobriram que, globalmente, o maior risco de assassinato de uma mulher vêm de um atual ou ex-parceiro.
Em países como a Índia, mulheres são muitas vezes assassinadas por conta de “crimes de honra”, como infidelidade, ou devido a disputas por dotes. Nestes casos, segundo Stoeckl, o assassinato serve para “proteger a reputação da família”.
Ela também observou que mulheres e homens são muitas vezes mortos por seus parceiros por motivos diferentes. “Quando uma mulher mata seu parceiro, geralmente é autodefesa, porque ela foi abusada”, disse. “Mas quando uma mulher é assassinada, é muitas vezes depois que ela resolveu terminar o relacionamento e o homem mata por ciúmes ou raiva”.
Prevenção é Importante
Em conjunto com o relatório, a OMS emitiu orientações para as autoridades detectarem esses tipos de problemas mais cedo do que costumam.
Os especialistas disseram, por exemplo, que todos os profissionais de saúde devem ser treinados para reconhecer quando as mulheres podem estar em risco e como responder de forma adequada.
Alguns especialistas dizem que a triagem para a violência doméstica deve ser adicionada a todos os níveis de cuidados de saúde, como clínicas obstétricas.
“É improvável que alguém entre em um hospital para informar que foi atacada”, disse Sheila Sprague, da Universidade McMaster, no Canadá, que pesquisou a violência doméstica em mulheres em clínicas ortopédicas. “Com o tempo, no entanto, se as mulheres entram em uma clínica para tratar uma fratura ou uma clínica de pré-natal, elas podem dizer que estão sofrendo abuso, se você perguntar”, argumentou.
Stoeckl disse que as autoridades da justiça criminal devem intervir numa fase mais precoce. “Quando uma mulher é assassinada por um parceiro, ela muitas vezes já teve contato com a polícia”, disse ela.
Mais medidas de proteção devem ser tomadas nesses casos, principalmente quando ele ou ela tem um histórico de violência e possui uma arma. “Há sinais suficientes pelos quais devemos procurar”, afirma.
O Que Fazer em Caso de Violência Doméstica ou Sexual
Segundo a pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, realizada pelo Instituto Avon / Ipsos entre 31 de janeiro a 10 de fevereiro de 2011, seis em cada dez brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica.
No Brasil, as mulheres são protegidas pela Lei Maria da Penha. Mesmo que a própria vítima não denuncie o abuso ou acuse o perpetrador, pessoas que sabem de algum caso de violência doméstica e sexual podem denunciar.
Ainda segundo a pesquisa do Instituto Avon / Ipsos, 94% das pessoas conhecem a Lei Maria da Penha, mas apenas 13% sabem seu conteúdo. A maioria das pessoas (60%) pensa que, ao ser denunciado, o agressor vai preso.
A lei garante a proteção da mulher que sofreu violência, mas depois do registro da ocorrência, a autoridade precisa ouvir ambas as partes e colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato.
Segundo levantamento realizado em 2011 pela Pesquisa DataSenado, o medo continua sendo a razão principal (68%) para evitar a denúncia dos agressores. Em 66% dos casos, os responsáveis pelas agressões foram os maridos ou companheiros.
Enquanto isso, a pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado feita em 2010 pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC afirma que uma em cada cinco mulheres consideram já ter sofrido alguma vez “algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido ou desconhecido”.
Diante desses números e do desconhecimento da lei por muitas mulheres, é dever de quem tem o conhecimento ajudar. Caso você tenha sido vítima de qualquer abuso ou conheça alguém que foi, denuncie.
A Lei Maria da Penha prevê cinco tipos de agressão contra a mulher:
- Violência física;
- Violência psicológica;
- Violência sexual;
- Violência patrimonial;
- Violência moral.
Qualquer uma dessas agressões contra a mulher deve ser denunciada na Central de Atendimento à Mulher através do número 180, que funciona 24 horas por dia. O anonimato da vítima ou de quem faz a denúncia de agressão é garantido.
A denúncia pode ser feita pela mulher ou qualquer pessoa próxima a ela. A Central de Atendimento à Mulher oferece informações sobre a Lei Maria da Penha e atendimento psicológico, jurídico e social à vítima, além de orientar sobre como agir e procurar ajuda.
A mulher agredida também pode ligar para a polícia no 190, ou prestar queixa em qualquer delegacia, para depois pedir que seu caso seja encaminhado a uma Delegacia de Defesa da Mulher.
O número 100 também é um disque-denúncia e ajuda em casos de agressões sexuais contra crianças e adolescentes, tráfico de mulheres e pornografia infantil
Para saber mais sobre o conteúdo da Lei Maria da Penha, clique aqui.
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