O quadro clínico do Portador de amor patológico (AP) é semelhante ao do dependente químico, pois ambos não conseguem ficar sem a Droga”, que, no primeiro caso, é o Parceiro.
Quando se está amando, tudo é perfeito, o mundo parece “cor-de-rosa”, os olhos brilham constantemente e risadas são soltas espontaneamente. Ao avistar aquela pessoa especial, explode um conjunto de sensações: a boca fica seca, as pernas, bambas, o coração, disparado, é algo que não se consegue controlar.
Quando parte das pessoas sonham um dia amar, ser amada e ter um relacionamento regado de sentimentos verdadeiro, amizade, atenção e carinho. Além disso, deseja encontrar o parceiro ideal, com as mesmas preferências, que viva intensamente cada momento sem medos ou receios, queira casar-se, constituir família, ter filhos, dentre outras metas.
Quando os objetivos não coincidem e, pior, o sentimento não recíproco, a parte afetada pode ficar bastante frustrada. E se houver humilhação, falta de dedicação, afeto e sinceridade, esta acaba enfrentando um problema sério: a dor de amar demais e não ser correspondida da mesma forma.
De acordo com a psicóloga clínica Andrea Lorena da Costa, mestranda do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Ambulatório Integrado dos Múltiplos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI), o número de mulheres que buscam serviço psicológico devido a problemas sentimentais é maior. “Isso ocorre por questões culturais; elas tendem a considerar a relação amorosa como prioridade em suas vidas. Porém, vale ressaltar que homens também procuram por atendimento”, frisa.
O amor patológico (AP) é característico pelo comportamento de prestar cuidados de maneira repetitiva, sem controle e liberdade de escolha num relacionamento. “As vítimas de AP se vem obrigadas a manter a atenção focada somente no (a) parceiro (a). Elas acabam negligenciando a si mesmas, seus filhos, amigos e familiares, que antes eram valorizados. Muitas vezes, o desenvolvimento profissional e pessoal destes indivíduos também fica prejudicado”.
A especialista afirma ainda que, normalmente, as agressões físicas dos indivíduos que sofrem de amor patológico não são voltadas para o parceiro (a) e sim para si mesmos, algumas vezes, na tentativa de chamar a atenção do outro ou com o objetivo de acabar com o sofrimento. “Geralmente, os portadores da doença costumam ter personalidade vulnerável, baixa autoestima, sentimentos de rejeição, abandono e raiva. Outras vezes, o AP está associado a sintomas depressivos e de ansiedade.”
Segundo a psicóloga, o amor patológico está relacionado com alta impulsividade. Ela diz ainda que há semelhanças no quadro clínico de portadores de AP e dependentes químicos. “As pessoas que sofrem desta doença são parecidas, pois ambas não conseguem ficar sem a droga que, neste caso, é o (a) parceiro (a). inicialmente, acham que o outro proporciona alívio da angústia, pois têm a fantasia de que ele irá preencher, totalmente, a falta de afeto e que vai trazer significado para sua vida.” Ela acrescenta: “Muitos pacientes relatam que o parceiro ou o relacionamento amoroso funciona como uma droga, porque sabem que o outro faz mal e que a relação vai trazer sofrimento, mas não conseguem abandoná-lo.”
MADA TEM AJUDADO MULHERES A SE LIBERTAREM DE AMORES DESTRUTIVOS
A psicóloga e terapeuta familiar Robin Norwood escreveu o livro “Mulheres que Amam Demais”, em 1985. A especialista espelhou-se na vida e experiência de centenas de mulheres envolvidas com dependentes químicos. Ao acompanha-las, percebeu que o comportamento delas era igual e as nomeou de “mulheres que amam demais”. No final da obra, Robin sugere a criação de grupos para contribuírem no tratamento da doença de amar demais.
O grupo Mulheres Amam Demais Anônimas (MADA) foi criado com base nesta obra literária. Ele tem proporcionado à recuperação de mulheres que sofrem devido à dependência de relacionamentos destrutivos. Por meio do programa, elas aprendem a conviver, harmoniosamente, consigo e com o próximo.
No Brasil, o primeiro MADA foi aberto em São Paulo. Ele cresceu e hoje há reuniões semanais em várias estados brasileiros. Além disso, o grupo já existe em Portugal e na Venezuela.
As mulheres que participam de encontros da MADA dividem com as amigas que acabaram de entrar para o grupo o significado de participar da primeira reunião. Todas passaram por problemas parecidos, foram vítimas de relacionamentos que envolvem ausência de amor, dedicação e fidelidade, porém regados de muita mágoa. Por isso, compreendem o que as novatas estão enfrentado.
O indicado é que a nova componente assista, no mínimo, a seis reuniões seguidas. Nos encontros, ela será recepcionada por diferentes coordenadoras, poderá analisar como funciona o MADA e decidir se realmente deseja se recuperar por meio da ajuda do grupo.
EXPERIÊNCIA DE QUEM AMOU INTENSAMENTE
Uma mulher de 59 anos, que prefere preservar sua identidade, moradora da zona norte do Rio de Janeiro, sofreu a experiência de amar demais e teve seu estado emocional abadado. “Casei-me pela segunda vez, considerava meu marido um presente de Deus, pois ele era uma pessoa amiga, compreensiva e companheira”, lembra.
Após cinco anos de matrimônio, de repente, ele pediu a separação. “Naquele momento, pensei que era brincadeira. Faltou o chão! Senti-me mal, minha pressão subiu, foi o momento mais terrível que passei em toda a minha vida. Meu esposo alegou que não me amava o suficiente para continuar ao meu lado. Mas o que mais me magoou foi ele ter me enganado, já que confessou que estava há um ano preparando para a separação. Doeu demais!”
Ela sempre fez o possível e o impossível para agradá-lo, inclusive, deu assistência quando ele ficou desempregado. “Ele não foi grato.” Para se recuperar do trauma, ela está buscando a ajuda de Deus. “Ele tem me proporcionado conforto, força e tem sido meu consolo, pois está sempre ao meu lado.
Além disso, estou podendo contar com a ajuda dos meus amigos”, conclui.
TRATAMENTO PSICOTERÁPICO É INDICADO PARA A RECUPERAÇÃO
Andrea Lorena orienta que é muito importante que tanto os homens quanto as mulheres percebam que sua forma de amar lhes traz sofrimento, que estão vivendo um relacionamento conturbado e que não conseguem rompê-lo. Conseguindo chegar a esta conclusão, devem, então, buscar algum tipo de tratamento psicoterápico. “Ele é indicado para ambos os sexos, sendo oferecido pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, gratuitamente, com curta duração e foco neste problema, durante o acompanhamento, serão vistas questões familiares e pessoais que contribuíram para o surgimento do quadro”, finaliza.
CARACTERÍSTICAS DE QUEM SOFRE DE AMOR PATOLÓGICO (AP)
1) Sinais e sintomas de abstinência (dores musculares, insônia, taquicardia, ansiedade, depressão, entre outros) na ausência ou distanciamento, mesmo que seja afetivo, do companheiro;
2) O indivíduo ocupa seu tempo dando atenção ao parceiro e aos interesse dele mais do que gostaria e, muitas vezes, não recebe a mesma atenção;
3) A pessoa gasta muito tempo pensando no outro ou controlando suas atividades;
4) A vítima abandona interesses e atividades que anteriormente eram valorizadas;
5) O relacionamento é mantido, apesar de a pessoa saber que este gera problemas familiares e até profissionais para ela e o parceiro.
6) Atitudes para diminuir ou controlar o comportamento de cuidar, excessivamente, do outro são, em geral, mal sucedidas.
Fonte: Agência Unipress Internacional
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