Em 27 de setembro de 1996, o Taliban, uma milícia fundamentalista islâmica tomou o poder no Afeganistão, e mergulhou o país em estado brutal de "apartheid" de gênero, no qual as mulheres e as meninas foram destituídas de todos os seus direitos humanos básicos.
"Se isto estivesse acontecendo a qualquer outra classe de povos ao redor do mundo, haveria um clamor tremendo. Nós devemos reivindicar que estes mesmos padrões sejam aplicados quando são mulheres e meninas que estão tratadas brutalmente.” Eleanor Smeal.
Ficamos chocadas ao ler as barbaridades a que estão submetidas essas mulheres! E decidimos fazer esse site para que as mulheres brasileiras tomem conhecimento do que se passa com as nossas irmãs do Afeganistão e busquem, se possível uma forma de contribuir com a sua causa. A tradução dos textos aqui presentes é a nossa contribuição.
A Situação da Mulher no Afeganistão
Desde que tomou o Afeganistão, em 1997, o grupo islâmico Taliban tem imposto terríveis regras de restrição às mulheres - fechando escolas e hospitais, banindo as mulheres do mercado de trabalho e exigindo que se vistam com o "burqa", vestimenta que as cobre dos pés à cabeça, inclusive o rosto. Chiqueba, uma mulher de 30 anos, que trabalhava em uma fábrica disse que logo que o Taliban assumiu o poder, foi espancada por que não estava "adequadamente" vestida.
O fundamentalismo islâmico, em sua essência, olha para a mulher como um ser "sub-humano", feita apenas para os serviços escravos dentro de casa e a procriação. Esse ultrajante ponto de vista tornou-se, incrivelmente, uma politica oficial após a tomada do país pelo grupo ultra fundamentalista Taliban.
Hoje, as mulheres são completamente privadas do direito à educação, ao trabalho, o direito de ir e vir, do direito à saúde, do direito ao recurso legal, do direito ao lazer, e do direito de ser humana.
As mulheres são vistas como despojos de guerra, seus corpos outro campo de batalha. As atrocidades na Bósnia são pouco comparadas com as atrocidades no Afeganistão, mas, infelizmente, o mundo nem ouve nem se preocupa com o que está acontecendo nesse país.
O espancamento de mulheres por razões "disciplinares", pelo mínimo pretexto (por caçarem sapatos com cores vibrantes, por mostrarem calcanhares desnudos, por aumentarem as vozes ao falar, pelo seu riso alcançar os ouvidos de homens desconhecidos ou pelo ruído dos seus sapatos ao andar etc.) é uma rotina no Afeganistão do Taliban.
Através desses espancamentos públicos (os quais mais frequentemente que nunca resultam na morte ou incapacidade das vítimas) o Taliban tem coagido sua população civil impondo a submissão.
Algumas das Muitas Restrições Impostas Pelo Taliban às Mulheres do Afeganistão
Essa lista vai mostrar uma pequena parte da terrível vida das mulheres e não será capaz de expor profundamente a humilhação, sofrimento e privações que sofrem. Taliban trata mulheres pior que animais. Eles declararam ilegal manter animais presos em gaiolas ou jaulas, enquanto mantêm como prisioneiras nossas mulheres, entre as quatro paredes de suas casas. Exceto para produzir crianças, satisfazer as necessidades sexuais dos homens ou o fazer o trabalho enfadonho da casa, as mulheres não têm nenhuma importância aos seus olhos.
1. É absolutamente proibido às mulheres qualquer tipo de trabalho fora de casa, incluindo professoras, médicas, enfermeiras, engenheiras etc.
2. É proibido às mulheres andar nas ruas sem a companhia de um mahram (pai, irmão ou marido).
3. É proibido falar com vendedores homens.
4. É proibido ser tratada por médicos homens.
5. É proibido o estudo em escolas, universidades ou qualquer outra instituição educacional.
6. É obrigado o uso do véu completo (Burqa) que cobre a mulher dos pés à cabeça.
7. É permitido chicotear, bater ou agredir verbalmente as mulheres que não estiverem usando as roupas adequadas (burqa) ou que estejam agindo em discordância com o que o Taliban quer, ou ainda que esteja sem seu "mahram".
8. É permitido chicotear mulheres em público se não estiverem com seus calcanhares cobertos.
9. É permitido jogar pedras publicamente em mulheres que tenham tido sexo fora do casamento (vários amantes foram apedrejados até a morte).
10. É proibido qualquer tipo de maquiagem (muitas mulheres tiveram seus dedos cortados por pintar as unhas).
11. É proibido falar ou apertar as mãos de estranhos.
12. É proibido à mulher rir alto. (nenhum estranho pode sequer ouvir a voz da mulher)
13. É proibido usar saltos altos que possam produzir sons enquanto andam, já que é proibido a qualquer homem ouvir os passos de uma mulher.
14. A mulher não pode usar taxi sem a companhia de um "mahram".
15. É proibida a presença de mulheres em rádios, televisão ou qualquer outro meio de comunicação.
16. É proibido às mulheres qualquer tipo de esporte ou mesmo entrar em clubes e locais esportivos.
17. É proibido às mulheres andar de bicicleta ou motocicleta, mesmo com seus “mahram".
18. é proibido o uso de roupas que sejam coloridas ou, em suas palavras "que tenham cores sexualmente atrativas")
19. É proibida a participação de mulheres em festividades.
20. As mulheres estão proibidas de lavar roupas nos rios ou locais públicos
21. Todos os lugares com a palavra "mulher" devem ser mudados, por exemplo: "o jardim da mulher" deve passar a se chamar "jardim da primavera".
22. As mulheres são proibidas de aparecer nas varandas de suas casas.
23. Todas as janelas devem ser pintadas de modo às mulheres não serem vistas dentro de casa por quem estiver fora.
24. Os alfaiates são proibidos de costurar roupas para mulheres
25. Mulheres são proibidas de usar os banheiros públicos (a maioria não tem banheiro em casa)
26. Ônibus públicos são divididos em dois tipos, para homens e mulheres. Os dois não podem viajar em um mesmo ônibus
27. É proibido o uso de calças compridas mesmo debaixo do véu.
28. Mulheres não podem se deixar fotografar ou filmar.
29. Fotos de mulheres não podem ser impressas em jornais, livros ou revistas ou penduradas em casas e lojas.
30. O testemunho de uma mulher vale a metade que o testemunho masculino, a mulher não pode recorrer à corte diretamente - isso tem que ser feito por um membro masculino da sua família.
31. É proibido às mulheres cantar.
30. É proibido a homens e mulheres ouvir música.
31. É completamente proibido assistir filmes, televisão, ou vídeo.
Um Olhar Dentro do Meu Mundo
Eles me fizeram prisioneira em grilhões e correntes
Você sabe qual é minha culpa? Você sabe qual é o meu pecado?
Esses selvagens ignorantes, que não podem ver a luz
Continuam a me bater e oprimir, para mostrar que podem fazer isso.
Eles me fazem invisível, em mortalhas e não existente
Uma sombra, uma não existência, silenciada e não vista
Sem direito à liberdade. Confinada na minha prisão
Diga-me, como suportar minha raiva e furor?
Eles destruíram meu país e o venderam ao invasor
Eles massacraram meu povo, minhas irmãs e minha mãe
Eles mataram todos meus irmãos, sem um pensamento.
O reinado que eles impuseram, ordena o ódio e a fúria
Chacina crianças e idosos, sem julgamento, defesa ou júri
Banem a arte e os artistas, pune os poetas e escritores
Vende drogas e rumores, nutre lutadores terroristas.
Na indigência e miséria eu sigo nessa vida
Eu continuo tentando conter o conflito
Você poderia me dar uma resposta? Sabe qual é a minha escolha?
Serei eu uma fonte do demônio? Você pode ouvir minha voz?
Essa é minha religião? É esse o caminha da cultura?
Eu mereço esse destino de ser entregue aos abutres?
A dor é tão intensa, devo acabar com minha vida?
Tomando um copo de veneno?
Apunhalando meu coração com uma faca?
Minha terrível culpa é baseada no meu gênero
casamento forçado, prostituição. Minha venda pelo delinquente
Buscando um caminho para compensação, encontrando injustiça cruel
Pega no círculo vicioso, ganha a paz? E ganha à justiça?
Presa na teia do horror. Desespero, medo, aspereza
Perdida no mundo do terror, a morte está perto e a escuridão
O mundo é acossado com a surdez, silêncio, frieza e inércia
Ninguém ouve meus lamentos, ninguém divide meu tormento.
Ouça o tufão rugir, esse é o meu gemido
Olhe a chuva do furacão, minhas lágrimas sem grades
A raiva do vulcão propaga meus gritos
A cólera do tornado, a visão dos meus sonhos.
Ouça-me, sinta minha dor, você precisa compartilhar meu sofrimento
Poderia ser você nas correntes, se não hoje, amanhã
Junte-se a mim na resistência, sem parada ou pausa
Nós podemos derrotar esse demônio, ser vencedoras da minha causa.
Essas regras não podem me deter, eu vou desafiar e lutar
Para alcançar a alvorada da liberdade, eu busco a luz da justiça
Eu vou esmagar esses dominadores, eu vou queimar essa jaula
Eu vou derrubar esses muros, nesse maldito inferno!
50 Aniversários da Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas
Dedicado a todas as minhas irmãs afegãs e todas as mulheres que sofrem a mesma situação
10 de Dezembro de 1998.
(Zieba Shorish-Shamley)
Fonte: www.mulher.org.br
Oremos Por Estas Mulheres... Graças a Deus temos Liberdade!
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