Gente tenho uma boa notícia para o marido e para a calculadora embutida naquele cérebro. As mulheres que casam, mas não adotam o sobrenome do marido, ganham durante toda sua carreira US$ 400 mil a mais em relação àquelas que mudam a assinatura. Os motivos são cruéis. Para o mercado, a mudança de nome significaria que a mulher é mais velha, tem menos instrução e menos motivação para trabalhar. Portanto, maridex, me agradeça por ter mantido minhas iniciais intactas. Você terá uma mulher US$ 400 mil mais rica! Rá! Não que eu tenha idéia de onde viria tanto dinheiro ou que partilhe das justificativas. Mas como a conclusão é de pesquisadores da Universidade Tilburg, na Holanda, e eles são especializados em economia, eu resolvi acreditar. E também porque eu arranjei mais um argumento para desfiar quando as pessoas perguntam “Você não mudou seu sobrenome depois de casar?”. Não, não mudei!
Foi a Letícia quem me mandou essa notícia, encontrada no site da rede de televisão americana ABC News . Letícia – e mais todo mundo que a tem (in?) felicidade de viver ao meu redor – teve a oportunidade de comprovar o que diz a reportagem da ABC: as mulheres que não mudam o nome quando casadas sofrem pressão social. Eu aluguei os ouvidos alheios durante uns bons meses elencando os motivos pelos quais eu tinha decidido manter o nome de solteira depois do casório. Acho que eu queria ter certeza de que meus motivos eram justificáveis (e checar quanto espanto eu causava nas pessoas).
Garanto que foi menos do que o causado na minha família e no então namorado. Tá, até eu fiquei espantada com a minha decisão. Quando criança cansei de escrever meu nome mais o do marido a ser conquistado. Era só para ver se combinava. Podem rir do mico, mas tenho certeza de que muita leitora e blogueira por aí já fizeram o mesmo. Não me condenem. Mas, enfim, quando começaram os preparativos para o casório, a simples idéia de mudar o meu nome me fez repensar o propósito de juntar as escovas de dente e disputar centímetros de colchão. Por que eu teria de mudar quem eu sou?
Eu sempre fui M. S. B. E cada uma dessas iniciais explica muito quem eu sou, os valores que aprendi as características que tenho em comum com cada família. Como eu poderia me desfazer de um dos dois sobrenomes (para não ficar com um nome enooooorme) e acrescentar um que não me dizia nada sobre quem eu era? Ficarei feliz em dar aos meus filhos os sobrenomes da mãe e do pai. Porque eles, sim, serão uma mistura dos costumes e valores que virão dos dois lados. Valores que eu e meu marido reinterpretaremos na nossa própria família, aprendendo um com o outro.
Portanto, não adotar o sobrenome do marido não é nada contra a família dele. É só uma questão de identidade mesmo. E de individualidade. Não é porque decidimos dividir a vida com alguém que temos de abrir mão desses valores preciosos. Aliás, acho que muitos casamentos acabam porque a mulher se deixar anular. Não se pergunta mais quem ela é, do que gosta, quais são os seus objetivos. E isso não exclui aquela história de partilhar. É partilhar sem se anular. Só isso.
Nem dá para esquecer que casar é pensar em “nós” e não no “eu”. Percebi isso já no cartório. Levei a minha certidão de nascimento para dar entrada na papelada do casamento civil. Toda embrulhadinha em uma capinha cor-de-rosa, bem conservada durante 27 anos. Isso não comoveu a atendente do cartório. Ela abriu a capinha cor-de-rosa e puxou com tudo a certidão, para desgrudá-la. Eu fiquei boquiaberta. Ela não podia ter mais cuidado? Ou perguntar para mim se podia rasgar o papel? Preenchemos toda papelada, apresentamos os outros documentos pedidos, pagamos. Na hora de ir embora, a atendente devolveu os originais de todos os documentos. Menos a certidão de nascimento. Eu lembrei a moça. Ela se prontificou a explicar: “Agora, você terá de usar a certidão de casamento. A de nascimento não vale mais nada.”
Sai inconformada do cartório. O casamento vale mais do que meu nascimento? Para mim, não faz sentido. Tive certeza de que estava certa em não mudar o nome. Isso até o padre falar na hora do casamento “Agora você assina aqui, com o seu nome já de casada”. Escrevi o de solteira, torcendo para ele não notar e falar alguma coisa. Imagina eu ter de explicar? Ufa, passou despercebido. Ao voltar da lua de mel, chegou a hora de assinar os cartões de agradecimento para mandar para os convidados. Nos primeiros, confesso, até assinei o nome do marido (mesmo não tendo adotado). Pensei que todo mundo ia achar estranho e que as pessoas não precisavam descobrir desse jeito. Depois, assumi o bom e velho M. S. B. E não tardaram as perguntas dos amigos e familiares que receberam os cartões: “Você não mudou seu nome?”. Assim, perguntas inocentes, sem nenhum juízo de valor. Mas, se fosse mesmo sem nenhum juízo de valor, ninguém perguntaria certo? Alguém pergunta algo recorrente, comum? Não, né? Então!
Eu acho o contrário digno de pergunta. Sempre tenho vontade de questionar por que amigas adotam o nome da família do marido – e correm mudar a maneira como assinam nas redes sociais. A mim, parece algo antiquado. Machista mesmo. Tive a prova quando propus ao namorado: eu adoto o seu nome se você adotar o meu. Claro, ele não quis. Mas não vivemos em uma sociedade em que homens e mulheres são tratados da mesma maneira, têm o mesmo valor, são iguais? Está na lei. Os homens também podem adotar os sobrenomes das parceiras. Mas isso todo mundo acha esquisito – tanto quanto a mulher não mudar de nome. Enquanto as pessoas não (se) entendem, eu só sei de uma coisa. Sou M. S. B (à espera dos US$ 400 mil).
PS: A Martha já escreveu aqui no blog sobre as dificuldades com essa história de trocar nome.
Obs. Achei interessante este assunto e por isso estar aqui... transcrito.