A divisão do trabalho doméstico ainda é bastante desigual. A responsabilidade é mesmo só das mulheres?
Verônica Mambrini, IG São Paulo.
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Mulheres gastam muito mais horas durante a semana com trabalho doméstico do que homens
Depois de avançar em espaços sociais que antes eram exclusividade masculina e obter muitas conquistas na luta pela igualdade salarial, as mulheres têm ainda uma trincheira onde falta avanço: a divisão do trabalho doméstico.
De acordo com dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2010, a mãe com filhos dedica 25,9 horas semanais aos cuidados com a casa, contra 15,5 horas dos homens com filhos. A carga horária de dedicação ao mercado de trabalho é mais parecida entre os gêneros: mulheres trabalham fora 36,8 horas semanais, contra 41,4 dos homens.
Embora países no Norte da Europa comecem a mudar esse cenário, eles são minoria. “Essa diferença é substancial e existe no mundo todo”, afirma Rebecca Tavares, representante da ONU Mulheres Brasil e Cone Sul. “Além do serviço de casa, esses afazeres se referem também ao cuidado de crianças e idosos, que fica nas mãos da mulher”. Para Rebecca, esse desequilíbrio nas responsabilidades da casa atrasa o desenvolvimento profissional da mulher. “Muitos locais de trabalho não têm a flexibilidade necessária para as necessidades da família, o que barra o aumento salarial feminino e incentiva o trabalho informal”, afirma.
Licença-paternidade é essencial
Entre as soluções possíveis, são cargas horárias mais flexíveis tanto para homens quanto para mulheres, que permitam que ambos os gêneros sejam responsáveis pela vida familiar. “Nenhum empregador espera menos da mulher, e não é para esperar menos mesmo. O ideal é que exista a possibilidade de horários flexíveis ou de trabalhar de casa, por exemplo,” diz Rebecca.
Um exemplo de legislação que avançou nesse sentido é a licença-maternidade na Islândia, que concede três meses para a mãe, três para o pai e mais três a serem decididos entre eles, garantindo um envolvimento muito maior dos pais na criação dos filhos e nos cuidados da casa. “O homem deveria receber licença paternidade e ter flexibilidade para acompanhar uma reunião dos filhos na escola ou uma ida ao médico. São essas políticas que estão funcionando no Norte da Europa”, afirma. Rebecca lembra o exemplo do ex-primeiro-ministro Tony Blair, da Inglaterra, que já era chefe de Estado quando se tornou pai e tirou licença-paternidade. “Foi um sinal simbólico muito importante.”
Não por coincidência, países em que o modelo de divisão das tarefas domésticas é de corresponsabilidade têm índices mais altos de felicidade, como Islândia ou Noruega. “Homens e mulheres deveriam assumir a responsabilidade pela casa em conjunto”, afirma. Em países como o Brasil, onde a mão-de-obra ainda é abundante, parte desse trabalho é terceirizado a empregadas domésticas, muitas vezes em condições de trabalho bem longe das ideais. De acordo com a Fundação Seade, 95,5% das empregadas domésticas de São Paulo são do sexo feminino.
“O Brasil tem 8,7 milhões de trabalhadoras domésticas, dos quais 2,5 milhões são diaristas”, lembra a representante da ONU. Junto com políticas públicas ou campanhas, um dos desafios para a mulher será que o homem, em vez de ajudar ocasionalmente, assuma uma parcela de responsabilidade nas tarefas cotidianas da casa e da família.