MULHERES DA BÍBLIA: AS FILHAS DE SALUM
Este conto está baseado no livro
de Neemias, especificamente no versículo 12, do 3º capítulo:
“Salum, filho de Haloés, governador da outra metade do distrito de Jerusalém, fez os reparos do trecho seguinte com a ajuda de suas filhas. ” Neemias 3:12
Salum
estava rodeado com sua família à mesa após o jantar. Eles celebravam a
possibilidade de ver os muros de Jerusalém reconstruídos:
— Hoje
tenho para vocês a mesma história e uma nova história.
—
Amamos ouvir suas histórias, papai. – Falou Itiyah impetuosa como sempre.
—
Yaweh tem concedido muitos presentes a mim. – Continuou ele – Minha querida
esposa, minha riqueza, meu bem precioso e meu suporte todos esses anos. – Ele
segura sua mão, ela reclina levemente a cabeça – Após dois anos de casados sem
um sinal sequer de gravidez Yaweh nos alegra com nossa primeira filha, Leora.
Leora
abre seu melhor sorriso.
—
Quando a olhamos pela primeira vez nossos olhos estavam iluminados e marejados
de lágrimas, é verdade. Leora, querida filha, sua vida ilumina nossas vidas. –
Virando-se para sua segunda filha Salum continua – E você querida Afra, surgiu
em nossas vidas na mesma velocidade que uma corça foge de seu caçador. Em tudo
se desenvolveu mais rápido que todos nós juntos.
— Ora,
papai! Yaweh quem colocou asas em meus pés.
Eles
riram.
— Com
essa sabedoria você vai tão longe quanto ela te impulsionar, Afra. – Olhando
para o lado oposto da mesa ele fala carinhosamente à sua terceira filha – Minha
filha, Chaya, tão sossegada quanto minha vida poderia ser. Você nos lembra de
como podemos atingir a perfeição um passo por vez.
E como
sempre ao virar-se para sua última filha Salum sua voz embargava um pouco, mas
o sorriso estampado no rosto expressava sua alegria autêntica.
—
Itiyah, Yaweh sempre esteve contigo. Vossa querida mãe teve dificuldades desde
a sua gestação, o parto foi traumático, felizmente Yaweh deu forças para ambas
resistirem.
Após
limpar os olhos Salum finaliza seu discurso:
—
Yaweh tem me retribuído muito mais do que fiz a Ele. O grande Aba me concedeu
uma capacidade para construções que tenho aperfeiçoado com cuidado e muito
trabalho. Neemias, filho de Hacalias, juntamente com os príncipes de Judá
designaram a mim como o responsável pela construção dos muros a oeste de
Jerusalém. Cada homem sob meu comando reuniu seus filhos para cooperarem. Eles
estão dispostos e eu tenho visto a mão poderosa de Yaweh a nosso favor.
— Mas,
papai… – Itiyah interrompeu – Não podemos ajudar? Estamos sempre juntas em seu
trabalho, com um pouco de determinação podemos levantar uma parte do muro.
Salum
deu uma boa gargalhada, mas não por desconsiderar a proposta de sua filha, na
verdade ele se sentia honrado de, na ausência de filhos homens, poder contar
com a boa vontade de suas filhas.
—
Quantas toneladas de pedra consegue carregar, querida Itiyah?
Leora
interviu:
—
Podemos contratar ajudantes, mas estamos no mesmo empenho dos demais filhos de
Jerusalém!
Salum
vira para suas outras filhas:
— E
vocês duas estão de acordo?
Afra e
Chaya concordaram com a cabeça.
No dia
seguinte a movimentação em Jerusalém recomeça. Nada os abatia. Nem a falta de
apoio dos príncipes de Tecoa rejeitando a liderança dos responsáveis pela
construção Salum e Refaías, filho de Hur. Nem as constantes ameaças de
Sambalate, Tobias e seu motim armado.
O dia
era corrido, a mãe preparava as refeições e as quatro se organizavam de maneira
a não sobrecarregar umas as outras e principalmente a seu pai.
Leora
com sua praticidade tinha ideias, à primeira vista, mirabolantes, mas que
adiantavam a dinâmica da obra.
Afra
estabelecia um cronograma com o passo-a-passo dos ensinos de seu pai,
organizando e distribuindo ordens aos empregados.
Chaya,
perfeccionista como era, se esmerava em verificar o alinhamento do muro e em
evitar desperdícios.
Itiyah,
muito dinâmica, incentivava com vivacidade a todos, oferecia sempre um
copo de refresco quando o sol estava a pino e também servia a todos como uma
anfitriã na hora de comer.
À
noite mesmo cansadas abriam seus corações na privacidade do quarto. Afra sempre
iniciava a conversa com seus comentários filosóficos:
—
“Como a cidade derrubada, sem muro, assim é o homem que não pode conter o seu espírito.
”
— Uh!
Provérbio do rei Salomão. – Leora se interessa.
E Afra
continua:
— Não
importa o quão grande seja o trabalho de manter o espírito contido, é melhor
que ser humilhado com a devastação total da honra.
— Você
está dizendo isso por causa do estado da cidade ou de nós mesmas? – Intervém
Itiyah.
—
Tudo. É um contexto só.
—
Felizmente a nossa sorte está mudando. O templo foi restaurado. E nossa
comunhão com Yaweh também.
Chaya
a mais calada sussurrou:
— Eu
tenho medo da guerra.
Itiyah
afoita a encoraja:
—
Chaya! Você não ouviu como oramos, junto com Neemias, para Yaweh nos livrar?
Não viu a guarda de HOMENS que eles puseram?
— Eu
só não quero que tenha guerra. Nosso pai teria de ir e dessa vez não poderíamos
acompanhá-lo.
— Bom,
em breve lhe daremos genros…
Elas
abafaram uma gargalhada. Afra conclui o seu discurso:
— Há
alguns inimigos que querem abalar, rachar e destruir a proteção de nosso
relacionamento com Yaweh. Num combate entre: inimigos versus Yaweh,
sabemos quem é mais forte.
—
Vigilância! – Arrematou Leora.
Depois
de um momento de silêncio, Itiyah fala com os olhos vidrados:
—
Amanhã eu vou usar minha aljava e arco.
As
garotas riram.
À
medida que a construção da muralha continuava, a restauração no coração de cada
uma delas também avançada. Ao expor seus temores, dúvidas, anseios diante
daquele que tudo via e sabia, elas aprendiam que a vida estaria
em construção contínua.
Fonte: https://lisdaiane.wordpress.com/2014/10/28/mulheres-da-biblia-as-filhas-de-salum/
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